O cenário crítico da saúde pública em
Manaus, onde uma greve dos médicos agravou as dificuldades que pacientes
para ter acesso às consultas e procedimentos especializados, foi pauta
do debate promovido pela Arquidiocese de Manaus na última quinta-feira
(26/01) em preparação à Campanha da Fraternidade (CF) 2012, que este ano
traz como tema “Fraternidade e Saúde Pública”.
O seminário, que terminou na sexta-feira
(27), no auditório da Faculdade Dom Bosco, e reuniu cerca de mil
participantes, entre agentes de pastoral, líderes comunitários e até
profissionais de saúde.Na avaliação do arcebispo de Manaus, Dom Luiz
Soares Vieira, o evento foi bastante positivo para a preparação da CF
deste ano e disse ainda que “priorizar a saúde é valorizar a vida”. Para
ele, o tema da Campanha deste ano se constitui como um grande desafio
para os cristãos e para os gestores públicos do segmento da saúde.
Alguns deles marcaram presença no seminário, defenderam posicionamento
quanto aos desafios do setor, responderam perguntas dos participantes e
receberam duras críticas durante o encontro.
O secretário municipal de Saúde de
Manaus, Francisco Deodato destacou os avanços do Sistema Único de Saúde
(SUS) nos últimos 20 anos, mas reconheceu que a construção do sistema
impõe ainda a superação de muitas dificuldades, para que os serviços
públicos nessa área estejam cada vez mais acessíveis à população. “É
preciso infraestrutura adequada, recursos humanos e recursos financeiros
para que se possa garantir a todos o acesso ao SUS, que é justamente o
objetivo do Sistema”, explicou.
Francisco disse ainda que o tema da CF é
bastante oportuno e pode contribuir para a gestão do setor neste ano.
Ele também destacou as parcerias institucionais e civis, “como a
Arquidiocese de Manaus, que sempre disponibiliza mão de obra, padres,
centros comunitários e agentes de pastoral nas ações de saúde na cidade,
como ocorreu em 2011”. A expectativa é que o apoio seja “renovado”
neste ano.
Em tom mais crítico, o presidente do
Sindicato dos Médicos do Amazonas (Simeam), Mário Viana, disse que a
greve dos médicos é fruto da desvalorização da categoria. “Nos últimos
anos, pouca importância se deu à necessidade de ampliação do quadro de
médicos e à valorização desses profissionais, para que a tão sonhada
humanização seja colocada em prática”, disse.
Viana também mostrou preocupação com a
lacuna existente entre o que preconiza o sistema e as dificuldades para o
acesso ao serviço de saúde. “No papel, o SUS funciona muito bem, mas,
na prática, a realidade é outra”, destacou, citando casos de “redução
drástica no número de leitos nos últimos anos”, de déficit de
profissionais e de baixos salários. Durante apresentação do segmento no
cenário local, o dirigente sindical chegou a expor o contracheque de um
médico da rede estadual de saúde.
Os participantes do seminário avaliaram
que o evento só não foi melhor por conta da ausência do secretário
estadual de Saúde, Wilson Alecrim, que mesmo convidado, não enviou nem
um representante.
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