Frei Galvão
Santo Antônio de Sant'Ana Galvão, OFM,mais conhecido como Frei Galvão
(Guaratinguetá, 1739 — São Paulo, 23 de dezembro de 1822)
foi um frade brasileiro. Uma das figuras religiosas
mais conhecidas do Brasil, famoso por seus supostos poderes de cura,
[2] Galvão foi canonizado pelo Papa Bento XVI
em 11 de maio de 2007, tornando-se o primeiro santo nascido no Brasil.
[3] No geral, é o segundo santo católico brasileiro, já que a
ítalo-brasileira Santa Paulina havia sido canonizada porJoão Paulo II em 2002.[4]
Índice
Biografia
Galvão nasceu no ano de 1739 na freguesia de
Seu pai, o português Antônio Galvão de França, era o capitão-mor da vila.[5]
França pertencia à Terceira Ordem de São Francisco
e era conhecido por sua generosidade.[6]
Sua mãe, Isabel Leite de Barros, era filha de fazendeiros
e membro da família do famoso bandeirante Fernão Dias Pais,
conhecido como o "caçador de esmeraldas".
Também conhecida por sua generosidade, Isabel teria doado
todas suas roupas aos pobres à época de sua morte.[6]
Galvão passou toda sua infância na casa que se situava na esquina da Rua do Hospital com a Rua do Teatro
(atualmente Ruas Frei Galvão e Frei Lucas, respectivamente).[5]
O local foi demolido e recentemente reconstruído.[5]
Aos 13 anos, Galvão foi enviado pelos pais ao seminário jesuíta
Colégio de Belém, localizado em Cachoeira, na Bahia,[5][6][7]
com a finalidade de estudarciências humanas.
Seu irmão José já se encontrava no local. No Colégio de Belém,
que freqüentou de 1752 a 1756, Galvão fez grandes progressos
nos estudos sociais e na prática cristã. Ele aspirava se tornar
um padre jesuíta, mas a perseguição anti-jesuíta liderada por
Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal,
fez com que ele se mudasse para um convento franciscano[7]
em Taubaté, seguindo o conselho do pai.[2][6]
Aos 21 anos, em 15 de abril de 1760, Galvão desistiu
do futuro promissor – visto a influência de sua
família na sociedade – e se tornou um noviço
no Convento de São Boaventura de Macacu,
em Itaboraí, Rio de Janeiro.[5][6][7] Lá, ele adotou
o nome religioso de Antônio de Sant'Ana Galvão
em homenagem à devoção de sua família
a Santa Ana.[5] Durante o noviciado,
Galvão se tornou conhecido por sua piedade,
zelo e virtudes exemplares.[6] Galvão fez sua
profissão solene em 16 de abril de 1761,
assumindo o voto de defender o título de
"Imaculada" da Virgem Maria, ainda considerada
uma doutrina polêmica à época.[6]
Em 11 de julho de 1762, Galvão foi ordenado
sacerdote e transferido para o Convento de
São Francisco na cidade de São Paulo,
onde continuou seus estudos em teologia e filosofia.[5][6]
Durante a jornada do Rio de Janeiro para São Paulo,
fez uma breve parada em Guaratinguetá para celebrar
sua primeira missa, realizada na Matriz de Santo Antônio,
onde ele havia sido batizado.[5] Em 1768, ele foi nomeado
confessor, pregador e porteiro do convento, considerado
um cargo importante naquela época.[6][7] Se destacou
de tal forma que a Câmara Municipal lhe considerou
o "novo esplendor do Convento".[5]
Em 1770, foi convidado para fazer parte da
Academia Paulistana de Letras.[5] Na segunda sessão literária,
realizada em março de 1770, Galvão declamou com sucesso,
e dotadas de profundo sentimento religioso e patriótico.[5]
De 1769 a 1770, atuou como confessor no Recolhimento
de Santa Teresa, casa que abrigava devotas de
Lá, ele conheceu a Irmã Helena Maria do Espírito Santo,
uma freira penitente que afirmava ter visões onde Jesus
Galvão, o confessor dela, estudou essas mensagens
e se consultou com os outros religiosos, que as
reconheceram como válidas e sobrenaturais.[6]
chamado Nossa Senhora da Luz, que foi fundado
Era baseado na Ordem da Imaculada Conceição,[6]
e se tornou um lar para meninas que desejavam viver
repentina da irmã Helena em 23 de fevereiro de 1775,
Galvão se tornou o novo diretor do instituto,[6]
atuando como novo líder espiritual das irmãs.[7]
Naquela época, uma mudança no governo da
província de São Paulo trouxe um líder que ordenou o
fechamento do convento.[6] Galvão aceitou a decisão,
mas as freiras se recusaram a abandonar o local e,
devido à pressão popular e aos esforços do Bispo,
o convento foi logo reaberto.[6] Posteriormente,
com o crescente número de novas irmãs,
Galvão demorou 28 anos para construir um
novo convento e uma igreja, sendo esta última inaugurada
em 15 de agosto de 1802.[6] Além das obras de construção
e dos deveres dentro e fora de sua Ordem,
Galvão se comprometeu também com a formação das irmãs.[6]
Os estatutos que ele escreveu para elas eram um
guia para a vida interior e para a disciplina religiosa.[6]
Quando as coisas pareciam estar mais calmas,
uma outra intervenção do governo trouxe uma nova
provação para Galvão.[6] O capitão-mor sentenciou um soldado
à morte por ter ofendido a seu filho levemente,
e o sacerdote foi obrigado a se exilar por ter defendido o soldado.[6]
Mais uma vez, a pressão popular conseguiu
revogar a ordem contra o padre.[6]
Entretanto, as irmãs e o Bispo de São Paulo, Manuel da Ressurreição, r
ecorreram ao superior provincial, escrevendo-lhe que
"nenhum dos habitantes desta cidade será capaz de suportar
a ausência deste religioso por um único momento".[6]
Como resultado, ele foi mandado de volta para São Paulo.[6]
Mais tarde, em 1798, Galvão foi nomeado guardião do
Em 1808, Galvão teria instituído a devoção a
Galvão, ao chegar às margens do rio Piraí,
teria decidido passar alguns dias no povoado,
se hospedando na casa de Ana Rosa Maria da Conceição.[8]
Antes de ir embora, deixou de presente a ela uma
estampa de Nossa Senhora das Barracas.[8]
Ana Rosa colocou a lembrança numa moldura
de madeira e fazia suas orações diante da imagem.[8]
Ficou viúva, se casou de novo e se mudou de endereço.[8]
Durante a mudança, a estampa se perdeu.[8]
Algum tempo depois, passando por uma região
onde havia ocorrido um incêndio, ela encontrou o quadro
entre as cinzas e os brotos da vegetação.[8]
A moldura havia se queimado,
mas a imagem estava apenas chamuscada.[8]
O fato foi interpretado como um milagre
e a notícia se espalhou pelo povoado.[8]
Como o povo já não se lembrava do nome original da imagem,
rebatizaram-na de Nossa Senhora das Brotas
e erigiram uma capela em sua homenagem.[8]
Onze meses depois, retornou ao Convento de São Francisco,
na cidade de São Paulo.[6] Em sua velhice, obteve permissão
do Bispo Mateus de Abreu Pereira e de seu tutor para ficar no
Recolhimento que ajudara a criar.[6] Veio a falecer naquele local
Recolhimento, sendo o seu túmulo até hoje um destino de
peregrinação de fiéis que teriam obtido favores devido a sua intercessão.[6]
Na época de seu enterro, sua fama de santo já
havia se espalhado por todo Brasil, sendo que os
frequentadores de seu velório, desejosos em guardar uma relíquia sua,
foram cortando pedaços de seu hábito, que ficou reduzido
até a altura dos joelhos de Galvão.[5] Como ele possuía somente aquele hábito,
foi sepultado com o de outro frade, que ficou igualmente curto.[5]
A primeira lápide do túmulo de Galvão teria tido o mesmo destino de sua batina,
sendo pouco a pouco levada pelos devotos.[5]
As pedras da lápide eram colocadas em copos
com água para tratar os enfermos.[5]
Em 1929, o Convento de Nossa Senhora da Luz tornou-se um
A edificação, atualmente chamada de Mosteiro da Luz,
No local também está localizado o Museu de Arte Sacra de São Paulo,
que abriga um dos mais representativos acervos do patrimônio sacro brasileiro,
originalmente reunido por Duarte Leopoldo e Silva,
primeiro arcebispo de São Paulo.[10]
Misticismo
Frei Galvão era um homem de muita e intensa oração,
sendo alguns fenômenos místicos atribuídos a ele,
Casos de bilocação também foram famosos durante sua vida;
segundo relatos ele se fazia presente em dois lugares diferentes
ao mesmo tempo para cuidar de enfermos
ou moribundos que clamavam por sua ajuda.[9]
Também era procurado pelo seu alegado poder
de curar doenças numa época em que os recursos médicos eram escassos.
Numa dessas ocasiões, escreveu num pedaço de papel
uma frase em latim do Ofício de Nossa Senhora
Em seguida, enrolou o papel no formato de uma pílula
e deu-o a uma jovem cujas fortes cólicas renais
estavam colocando sua vida em risco. Depois que ela tomou
a pílula a dor cessou imediatamente e ela expeliu uma grande
quantidade de cálculo renal. Em outra ocasião,
um homem pediu a Galvão que ajudasse sua esposa,
Galvão fez com que ela tomasse a pílula de papel,
A história das pílulas se espalhou rapidamente e
Galvão teve que ensinar às irmãs do Recolhimento como fabricá-las,
o que elas fazem até os dias de hoje.
Elas são distribuídas gratuitamente para cerca de 300 fiéis diariamente.[9]
Em 25 de outubro de 1998,
Galvão se tornou o primeiro religioso nascido no Brasil
um ano antes, em 8 de março de 1997.[7] Em 11 de maio de 2007,
se tornou a primeira pessoa nascida no Brasil
a ser canonizada pela Igreja Católica.[3]
A cerimônia de mais de duas horas, realizada ao ar livre no
Galvão foi o primeiro santo que o Papa Bento XVI
canonizou numa cerimônia realizada fora da Cidade do Vaticano.[12]
Sua elevação ao status de santo veio depois que a
Igreja concluiu que ele havia realizado pelo menos dois milagres.[2]
De acordo com a Igreja, as histórias de
Sandra Grossi de Almeida e Daniella Cristina da Silva
são evidências da intercessão divina de Galvão.[3]
Após tomar uma das pílulas de papel em 1999,[5]
Almeida – que possui uma malformação uterina
que deveria impossibilitar que ela carregasse um
feto no útero por mais de quatro meses – deu à luz a Enzo.[2]
As pílulas de Galvão, de acordo com a Igreja,
também seriam responsáveis pela cura, em 1990,
de Daniella Cristina da Silva,
uma menina de quatro anos de idade que sofria de hepatite
Apesar da popularidade das pílulas entre os católicos brasileiros,
médicos e até mesmo alguns membros do clero consideram-nas
é que somente pacientes em estado terminal devam tomá-las.[14]
Referências
- ↑ Dia de Frei Galvão é comemorado com missas pelo país (em português). G1 (25 de outubro de 2007). Página visitada em 15 de janeiro de 2011.
- ↑ a b c d e f g h Profile: Saint Antonio Galvao (em inglês). BBC News (11 de maio de 2007). Página visitada em 14 de janeiro de 2011.
- ↑ a b c Pope names Brazil's first saint (em inglês). BBC News (11 de maio de 2007). Página visitada em 14 de janeiro de 2011.
- ↑ a b c Frayssinet, Fabiana; Osava, Mario (11 de maio de 2007). A New Saint to Help Stem the Loss of Adherents (em inglês). IPS. Página visitada em 14 de janeiro de 2011.
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w Conteúdo do site Casa de Frei Galvão (em português). Casa de Frei Galvão. Página visitada em 14 de janeiro de 2011.
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z aa ab ac ad ae af ag ah ai aj Fr. Anthony of Saint Anne Galvão (1739 - 1822) (em inglês). Vatican.va (11 de maio de 2007). Página visitada em 14 de janeiro de 2011.
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o Saint Antonio of Saint Anne (em inglês). Patron Saints Index. Página visitada em 14 de janeiro de 2011.
- ↑ a b c d e f g h i j "Piraí do Sul homenageia Nossa Senhora das Brotas" (em português). Paraná Online. 24 de dezembro de 2004. Página visitada em 5 de março de 2011.
- ↑ a b c d e f Pomi, Ana Maria (Deutsche Presse-Agentur) (9 de maio de 2007). Profile: Brazil's soon-to-be saint performed paper-pill miracles (em inglês). Monstersandcritics.com. Página visitada em 14 de janeiro de 2011.
- ↑ a b Ribeiro, Tatiane (16 de dezembro de 2010). Museu de Arte Sacra e Mosteiro da Luz (em português). Site oficial de turismo da cidade de São Paulo. Página visitada em 17 de fevereiro de 2011.
- ↑ a b c Alves, Lise (13 de maio de 2007). Brazilians in need, physical or spiritual, seek St. Galvao's pills (em inglês). Catholic News Service. Página visitada em 14 de janeiro de 2011.
- ↑ a b c de Vries, Lloyd (11 de maio de 2007). Pope Canonizes First Brazilian Saint (em inglês). CBS News. Página visitada em 14 de janeiro de 2011.
- ↑ Rohter, Larry (12 de maio de 2007). Amid Burst of Fervor, Pope Canonizes a Brazilian (em inglês). The New York Times. Página visitada em 14 de janeiro de 2011.
- ↑ a b Agence France-Presse (6 de maio de 2007). The miracle pills of Friar Galvao, Brazil's soon to be saint (em inglês). Sawfnews.com. Página visitada em 14 de janeiro de 2011.
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